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domingo, setembro 30, 2007

BIBLIOTECA - ÍNDICE GERAL

Textos Clássicos

sábado, agosto 26, 2006

A Odisséia

quarta-feira, agosto 23, 2006

A Odisséia - Apresentação

A ODISSÉIA - HOMERO

APRESENTAÇÃO

Além de constituir, ao lado da Ilíada, obra iniciadora da literatura grega escrita, a Odisséia, de Homero, expressa com força e beleza a grandiosidade da remota civilização grega. A Odisséia data provavelmente do século VIII a.C., quando os gregos, depois de um longo período sem dispor de um sistema de escrita, adotaram o alfabeto fenício. Na Odisséia ressoa ainda o eco da guerra de Tróia, narrada parcialmente na Ilíada. O título do poema provém do nome do protagonista, o grego Ulisses (Odisseu). Filho e sucessor de Laerte, rei de Ítaca e marido de Penélope.
Odisséia (do grego Oδυσσεία, Odysseía) é um poema de nostos (palavra grega que significa "regresso", de onde deriva a palavra portuguesa "nostalgia"). O título é formado pelo nome grego de Ulisses (Oδυσσεύς Odusseús).

Ulisses é um dos heróis favoritos de Homero e já aparece na Ilíada como um homem perspicaz, bom conselheiro e bravo guerreiro. A Odisséia narra as viagens e aventuras de Ulisses em duas etapas: a primeira compreende os acontecimentos que, em nove episódios sucessivos, afastam o herói de casa, forçado pelas dificuldades criadas pelo deus Posêidon. A segunda consta de mais nove episódios, que descrevem sua volta ao lar sob a proteção da deusa Atena. É também desenvolvido um tema secundário, o da vida na casa de Ulisses durante sua ausência, e o esforço da família para trazê-lo de volta a Ítaca. A Odisséia compõe-se de 24 cantos (rapsódias) em verso hexâmetro (seis sílabas), e a ação se inicia dez anos depois da guerra de Tróia, em que Ulisses lutara ao lado dos gregos. A ordem da narrativa é inversa: tem início pelo desfecho, a assembléia dos deuses, em que Zeus decide a volta de Ulisses ao lar. O relato é feito, de forma indireta e em retrospectiva, pelo próprio herói aos feaces - povo mítico grego que habitava a ilha de Esquéria. Hábeis marinheiros, são eles que conduzem Ulisses a Ítaca. O poema estrutura-se em quatro partes: - na primeira (cantos I a IV), intitulada "Assembléia dos deuses", Atena vai a Ítaca animar Telêmaco, filho de Ulisses, na luta contra os pretendentes à mão de Penélope, sua mãe, que decide enviá-lo a Pilos e a Esparta em busca do pai. O herói porém encontra-se na ilha de Ogígia, prisioneiro da deusa Calipso. Na segunda parte, "Nova assembléia dos deuses", Calipso liberta Ulisses, por ordem de Zeus, que atendeu aos pedidos de Atena e enviou Hermes com a missão de comunicar a ordem. Livre do jugo de Calipso, que durou sete anos, Ulisses constrói uma jangada e parte, mas uma tempestade desencadeada por Posêidon lança-o na ilha dos feaces (canto V), onde é descoberto por Nausícaa, filha do rei Alcínoo. Bem recebido pelo rei (cantos VI a VIII), Ulisses mostra sua força e destreza em competições esportivas que se seguem a um banquete. Na terceira parte, "Narração de Ulisses" (cantos IX a XII), o herói passa a contar a Alcíno as aventuras que viveu desde a saída de Tróia: sua estada no país dos Cícones, dos Lotófagos e dos Ciclopes; a luta com o ciclope Polifemo; o episódio na ilha de Éolo, rei dos ventos, onde seus companheiros provocam uma violenta tempestade, que os arroja ao país dos canibais, ao abrirem os odres em que estão presos todos os ventos; o encontro com a feiticeira Circe, que transforma os companheiros em porcos; sua passagem pelo país dos mortos, onde reencontra a mãe e personagens da guerra de Tróia. Na quarta parte, "Viagem de retorno", o herói volta à Ítaca, reconduzido pelos feaces (canto XIII). Apesar do disfarce de mendigo, dado por Atena, Ulisses é reconhecido pelo filho, Telêmaco, e por sua fiel ama Euricléia, que, ao lavar-lhe os pés, o identifica por uma cicatriz. Assediada por inúmeros pretendentes, Penélope promete desposar aquele que conseguir retesar o arco de Ulisses, de maneira que a flecha atravesse 12 machados. Só Ulisses o consegue. O herói despoja-se em seguida dos andrajos e faz-se reconhecer por Penélope e Laerte. Segue-se a vingança de Ulisses (cantos XIV a XXIV): as almas dos pretendentes são arrastadas aos infernos por Hermes e a história termina quando Atena impõe uma plena reconciliação durante o combate entre Ulisses e os familiares dos mortos. A concepção do poema é predominantemente dramática e o caráter de Ulisses, marcado por obstinação, lealdade e perseverança em seus propósitos, funciona como elemento de unificação que permeia toda a obra. Aí aparecem fundidas ou combinadas uma série de lendas pertencentes a uma antiqüíssima tradição oral com fundo histórico. Há forte crença de que a Odisséia reúna temas oriundos da época em que os gregos exploravam e colonizavam o Mediterrâneo ocidental, daí a presença de mitos com seres monstruosos no Ocidente, para eles ainda misterioso. Pela extrema perfeição de seu todo, esse poema tem encantado o homem de todas as épocas e lugares. É consenso na era moderna que a Odisséia completa a Ilíada como retrato da civilização grega, e as duas juntas testemunham o gênio de Homero e estão entre os pontos mais altos atingidos pela poesia universal.



Personagens


Casa de Ulisses
  • Odisseu (Ulisses) que foi um herói da guerra de Tróia e que quer voltar para junto dos seus.
  • Penélope, mulher de Odisseu
  • Telêmaco, filho de Odisseu e de Penélope
  • Laerte, pai idoso de Odisseu
  • Eumeu, porqueiro

Casa dos Feácios

  • Alcínoo, rei dos feácios
  • Areta, esposa de Alcínoo
  • Nausícaa, filha de ambos
  • Laodamante, irmão de Nausícaa, desafiador de Odisseu nos jogos.
  • Hálio, idem
  • Clitóneo, idem
  • Equeneu, velho herói
  • Demódoco, aedo, contador lírico de histórias
  • Pontónoo
  • Anfíloo, atleta
  • Euríalo, atleta, desafiador de Odisseu nos jogos


Companheiros de Odisseu nas viagens marítimas

  • Euríloco
  • Perimedes
  • Elpenor


Deuses intervenientes

diretamente:

  • Atena (a favor de Odisseu)
  • Posêidon (contra Odisseu)


Monstros e Criaturas Maravilhosas

  • Hélio
  • Cila
  • Ciclopes, em particular o ciclope Polifemo
  • Caríbdis
  • Sereias
  • Lotófagos

CENÁRIO

As aventuras de Ulisses são aventuras eminentemente marítimas. Ulisses regressa de Tróia, que é no mar Jônico, na atual Turquia. Tenta regressar à ilha de Ítaca onde é rei. A ilha de Ítaca fica na costa ocidental da Grécia. Assim Ulisses vai ter que contornar a península grega. As aventuras têm por cenário o mar Mediterrâneo, entre ilhas verdadeiras e outras míticas. Entre homens e deuses. O mar para os gregos era um elemento não natural. Andar no mar era uma manifestação da hybris (desregramento). Morrer no mar era o pior que podia acontecer a um grego da época antiga.


Enfim...
Toda obra é abarrotada de referências a mitológia grega. Sendo em muitos casos, a única informação escrita (da epoca) sobre tal conjuntura mitíca.



HOMERO

A Homero se atribuem os dois maiores poemas épicos da Grécia antiga, que tiveram profunda influência sobre a literatura ocidental. Além de símbolo da unidade e do espírito helênico, a Ilíada e a Odisséia são fonte de prazer estético e ensinamento moral. De acordo com o historiador grego Heródoto, Homero nasceu em torno de 850 a.C. em algum lugar da Jônia, antigo distrito grego da costa ocidental da Anatólia, que hoje constitui a parte asiática da Turquia, mas as cidades de Esmirna e Quio também reivindicavam a honra de terem sido seu berço. Até mesmo as fontes antigas sobre o poeta contém numerosas contradições, e a única coisa que se sabe com certeza é que os gregos atribuíam a ele a autoria dos dois poemas. A tradição lhe atribuiu também a coleção dos 34 Hinos homéricos, dos quais procede a imagem lendária de Homero como poeta cego, mas que depois constatou-se serem de fins do século VII a.C. Os maiores especialistas gregos não admitem que tenha sido Homero o autor de obras como o desaparecido poema Margites ou a paródia épica Batracomiomaquia. As muitas lendas e a escassa confiabilidade dos dados biográficos sobre Homero fizeram com que já no século XVIII muitos questionassem até mesmo a existência do poeta. As diferenças de tom e estilo entre a Ilíada e a Odisséia levaram alguns críticos a aventar a hipótese de que poderiam ter resultado da recomposição de poemas anteriores, ou de que teriam sido criadas por autores diferentes. Todas essas dúvidas constituem a chamada "questão homérica", e permanecem abertas à discussão. Os pontos em que há maior concordância dos estudiosos são: a Ilíada é anterior à Odisséia; quase com certeza os dois poemas foram compostos no século VIII a.C., cerca de três séculos após os fatos narrados; foram originalmente escritos em dialeto jônio, com numerosos elementos eólios - o que confirma a origem jônica de Homero; pertenciam à tradição épica oral, pelo menos no que se refere às técnicas empregadas, já que existem opiniões divergentes quanto ao emprego ou não da escrita pelo autor. A versão na forma escrita, tal como se conhece hoje, teria sido feita em Atenas durante o século VI a.C., se bem que a divisão de cada poema em 24 cantos corresponderia aos eruditos alexandrinos do Período Helenístico. No decorrer desse período teriam sido introduzidas várias interpolações. Com base nesses dados, todos mais ou menos hipotéticos, deduziram-se alguns dados básicos sobre Homero e sua obra. Tanto a Ilíada como a Odisséia apresentam diversas inconsistências internas, como alusões a técnicas e equipamentos de combate que existiram em épocas diferentes. Tais inconsistências, porém, poderiam ser explicadas pelo fato de o poeta ter utilizado materiais anteriores e por terem sido provavelmente incorporados alguns outros. Quanto à existência de um autor único para a Ilíada, a mais antiga das duas obras, argumenta-se que embora seja evidente a existência de poemas épicos orais anteriores sobre os mesmos temas, não parece haver existido nenhum de extensão sequer aproximada, nem dotado de tal complexidade estrutural. Tal constatação indicaria a existência de um criador individual, que deu uma nova estrutura aos temas tradicionais e integrou-os em sua visão pessoal da realidade. Os que negam a autoria comum de ambas as obras argumentam que a primeira foi composta em tom mais heróico e tradicional e que a segunda tende mais para a ironia e a imaginação. Acrescentam ainda o emprego de um léxico posterior na Odisséia. Já a tese que defende a autoria única baseia-se na afirmação de Aristóteles, de que a Ilíada seria uma obra da juventude de Homero, enquanto a Odisséia teria sido composta na velhice, quando o poeta decidiu redigir a segunda obra como complemento da primeira e ampliação de sua perspectiva. Ambas as obras têm características comuns absolutamente inovadoras, como a visão antropomórfica dos deuses, a confrontação entre os ideais heróicos e as fraquezas humanas e o desejo de oferecer um reflexo integrador dos ideais e valores da emergente sociedade helênica. Esses argumentos, somados à mestria técnica evidente nos dois poemas, favorecem a conclusão de que o autor da Ilíada, esse grande poeta jônico a quem os gregos chamavam Homero, foi também o autor, ou principal inspirador da Odisséia. Ao mesmo tempo em que refletiram luminosamente a antiguidade mais remota da civilização grega, os poemas homéricos projetaram-na adiante com tamanha originalidade e riqueza que ela se faria presente nas mais diversas manifestações da arte, da literatura e da civilização do Ocidente. Inúmeros poetas partiram de sua influência, inúmeros artistas se impregnaram de sua fortuna criativa, seu colorido e suas situações, que se tornaram símbolo e síntese de toda a aventura humana na Terra, a ponto de o nome de um poeta cuja existência mesma não se pode provar passar a confundir-se com a própria poesia. Quanto à morte de Homero, a versão mais aceita é de que teria ocorrido em uma das ilhas Cíclades


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Rapsódia (Canto) 01

A ODISSÉIA - HOMERO



Rapsódia I

Assembléia dos deuses. Exortação de Atena a Telêmaco

Ó Musa, fala-me do solerte varão, que, depois de ter destruído a cidade sagrada de Tróia, andou errante por muitas terras, viu as cidades de numerosas gentes e conheceu-lhes os costumes; e, por sobre o mar, sofreu no seu coração aflições sem conta, no intento de salvar a sua vida e de conseguir o regresso dos companheiros. Mas, não obstante o seu desejo, não os salvou, pois pereceram por desatino próprio os insensatos, que devoraram as vacas do Sol, filho de Hiperíone, pelo que este não os deixou ver o dia do regresso. Deusa, filha de Zeus, conta-nos a nós também algumas dessas empresas, começando por qualquer delas.

Já estavam todos na pátria os que, na guerra e no mar, tinham escapado a uma cruel morte; Ulisses era o único que suspirava pelo regresso e pela esposa, detido numa côncava gruta pela veneranda ninfa Calipso, a deusa preclara, que o desejava para marido. E, quando, no curso dos tempos, chegou a época decretada pelos deuses para ele voltar a Ítaca, a sua pátria, nem sequer então, estando entre os que lhe eram caros, foi livre de trabalhos. Todos os deuses se compadeciam dele, exceto Posêidon, que permaneceu encolerizado contra o deiforme Ulisses, enquanto não chegou à sua terra.

Ora o deus tinha ido à afastada região dos Etíopes - povo que vive nos confins da terra e se divide em dois ramos: um para o lado do poente e outro para o levante, - a fim de receber uma hecatombe de touros e de cordeiros. E, enquanto se deliciava, assentado à mesa do festim, os outros deuses reuniam-se no palácio de Zeus Olímpico. O primeiro a falar foi o pai dos homens e dos deuses, porquanto tinha presente, no seu espírito, o irrepreensível Egisto, ao qual matara o famoso Orestes, filho de Agamenon. Lembrado dele, disse aos imortais:

- Oh, que acusação não fazem os homens aos deuses! Dizem que de nós procedem os males, quando só eles, por loucura própria e contra a vontade do destino, são os seus autores, como sucedeu a Egisto que, contrariando o destino, desposou a legítima mulher do filho de Atreu, a quem matou no regresso, apesar de saber que o esperava uma morte cruel. E nós tínhamo-lo aconselhado antes, por meio de Hermes, o vigilante Argifonte, que o não matasse, nem lhe cobiçasse a esposa, pois Orestes vingaria o filho de Atreu, logo que chegasse à idade núbil e sentisse saudades da sua terra. Assim lho declarara Hermes; sem embargo, os seus bons conselhos não persuadiram o espírito de Egisto, que expiou todos os crimes de uma só vez.

Atena, a deusa de olhos brilhantes, respondeu-lhe:

- Pai nosso, filho de Crono, dominador supremo, ele sucumbiu a uma morte muito justa; e assim morra quem praticar obras semelhantes. Mas o prudente Ulisses angustia-me o coração, o infeliz, que pena, há tanto tempo, longe dos amigos; numa ilha circundada pelas ondas, onde está o centro do mar. A ilha é arborizada e nela tem a sua habitação uma deusa, a filha do pernicioso Atlas, o qual conhece todas as profundidades marinhas e sustenta as altas colunas que separam a Terra do céu. Ela retém-no aí, apesar dos seus queixumes, e não cessa de seduzi-lo com palavras doces e lisonjeiras, a fim de que se esqueça de Ítaca. Ulisses, porém, que desejaria ver ainda que não fosse mais que o fumo que sobe da sua terra, suspira pela morte. E isto, Olímpico, não te comove o coração? Não te foi Ulisses grato, quando, junto das naus dos Argivos, na vasta Tróia, te ofereceu sacrifícios? Por que estás, pois, ó Zeus, tão irritado contra ele?

Zeus, o amontoador das nuvens, em resposta disse-lhe:

- Minha filha, que palavra te escapou do cerco dos dentes? Como poderia esquecer-me do divino Ulisses, em inteligência o primeiro dos homens, que ofereceu mais sacrifícios que ninguém aos deuses imortais, moradores do vasto céu? Mas Posêidon, o Sacudidor da terra, tem-lhe ódio, por ter cegado o único olho do Ciclope, de Polifemo, semelhante a um deus. Este é de todos os Ciclopes o mais valente e nascera da ninfa Toosa, filha de Forco, dominador do mar estéril, a qual se ajuntara com Posêidon numa gruta côncava. Desde então, o Sacudidor da terra, se bem que não matou Ulisses, fá-lo errar longe da pátria. Mas nós, todos os presentes, ponderemos o modo como se realizará o regresso dele; e Posêidon deporá a sua cólera, pois ser-lhe-ia impossível, não concordando com os deuses, contender só com todos os imortais juntos.

Respondeu-lhe Atena, a deusa de olhos brilhantes:

- Pai nosso, filho de Crono, dominador supremo, se é do agrado dos bem-aventurados deuses que o prudente Ulisses volte a seu lar, enviemos à ilha de Ogígia a Hermes, o mensageiro Argifonte, a fim de anunciar, sem demora, à ninfa de belas tranças o decreto irrevogável, acerca do regresso do paciente Ulisses. Entretanto, eu irei a Ítaca incitar ainda mais a seu filho incutir-lhe no coração ânimo, para que convoque a assembléia dos Aqueus de longa cabeleira e proíba a todos os pretendentes a entrada no palácio, os quais não cessam de abater-lhe ovelhas em grande número e bois de rodantes cascos e de bamboleante andar. E enviá-lo-ei, depois, a Esparta e à arenosa Pilo, em busca de notícias a respeito da volta do seu pai e para que entre os homens adquira nomeada honrosa.

Tendo assim falado, ligou aos pés belas e divinas sandálias de ouro que, com a rapidez do vento, a levavam por sobre as águas e a terra imensa; e tomou a forte lança, de aguda e brônzea ponta, pesada, grande e potente, com a qual ela, a filha de poderoso pai, subjuga as fileiras dos heróis, quando se encoleriza contra eles. Desceu, depois, célere, os cumes do Olimpo e, na figura de um estrangeiro, de Mentes, rei dos Táfios, parou em terras de Ítaca, ao portal de Ulisses, sobre a soleira do pátio, com a lança de bronze na mão. Encontrou os altivos pretendentes assentados diante da porta, em peles de bois, que eles próprios tinham matado, divertindo o espírito com pedrinhas de jogar. Vários arautos e servos diligentes iam-lhes misturando nas crateras vinho e água, enquanto outros lavavam com esponjas de muitos olhos as mesas, as dispunham à sua frente e trinchavam carnes abundantes.

O deiforme Telêmaco foi o primeiro que a viu. Ele estava assentado no meio dos pretendentes, de coração amargurado, contemplando em espírito o seu pai valoroso: como ele, caso regressasse, [os expulsaria do palácio], reaveria os seus direitos de senhor e governaria na sua casa. Assentado, pois, entre os pretendentes, pensava nisto, quando percebeu Atena. Foi logo direto ao portal, todo indignado, por um estrangeiro esperar tanto tempo ali; e, aproximando-se dela, tomou-a pela mão direita, recebeu a lança de bronze e saudou-a com estas aladas palavras:

- Salve, estrangeiro! Tu serás entre nós amigavelmente acolhido; e, depois do jantar, dirás que necessidade te trouxe.

Assim falando, guiava Palas Atena, que o ia seguindo. Quando já estavam dentro da alta casa, ele foi pôr a lança num lanceiro bem polido, ao pé de uma elevada coluna, onde havia muitas outras lanças pertencentes ao paciente Ulisses; a ela fê-la assentar numa poltrona magnífica, artisticamente trabalhada, depois de estender por cima um pano e colocar no chão um escabelo para os pés. Para si dispôs um cadeira com lavores artísticos, ao lado dela, longe da turba dos pretendentes, com receio de que, entre esses homens soberbos, o estrangeiro fosse incomodado pelo barulho ou lhe desagradasse a refeição, bem como para ele o poder interrogar, a respeito do pai ausente. Uma criada trouxe, então, água para lavarem as mãos, num jarro de ouro, que lhes deitou sobre uma bacia argêntea, e dispôs uma polida mesa adiante deles. [Uma dispenseira venerável serviu-lhes pão, além de muitas outras iguarias das provisões guardadas, de que distribuía com prazer]. E um trinchante trouxe pratos de variadas carnes, que lhes ofereceu; e colocou copos de ouro à sua beira, nos quais um arauto ia, repetidas vezes, deitando vinho.

Entraram os pretendentes altivos. Logo que se assentaram por ordem em cadeiras e poltronas, os arautos deitaram-lhes água nas mãos, as escravas abarrotaram açafates de pão e os escravos encheram crateras de bebida até às bordas. E eles estenderam as mãos para os manjares colocados à sua frente. Mas, depois de saciarem a vontade de beber e de comer, cuidaram os pretendentes na sua alma de outras diversões: do canto e da dança, que são os enfeites do banquete. 0 arauto pôs uma magnífica citara nas mãos de Fémio, que era obrigado a cantar junto dos pretendentes; e o tangedor principiou um inspirado canto. Telêmaco disse, então, para Atena de olhos brilhantes, aproximando a cabeça da sua, para que os outros não ouvissem: - Meu hóspede, indignar-te-ás pelo que te vou dizer? A estes interessam a citara e o canto - coisa incômoda, pois consomem impunemente, a fazenda de outrem, de um homem, cujos ossos brancos talvez, espalhados pela praia, se putrefaçam à chuva, ou rolem no mar, à mercê das ondas. Mas, se o vissem de volta a Ítaca, todos desejariam ter antes pés ligeiros do que abundância de ouro e de vestidos. Ele, porém, sucumbiu a um fatal destino e não temos esperança de que torne, embora haja quem o afirme, entre a gente da terra. Oh, não! O dia do seu regresso não despontará! Mas fala e responde-me sem rebuço: Quem és tu? Qual é a tua terra? Onde fica a tua cidade? Teus pais onde moram? [Em que nau vieste e como te trouxeram os marinheiros a Ítaca? E quem eram eles? Pois não creio que viesses para aqui a pé]. Responde-me também com franqueza, para ficar bem informado, se vens cá pela primeira vez, ou se és hóspede de meu pai; porque a nossa casa é conhecida de muitos homens, com os quais ele tinha convívio.

Disse-lhe Atena, a deusa de olhos brilhantes:

- Vou responder-te com toda a sinceridade. Eu honro-me de ser chamado Mentes, filho do prudente Anquíalo; e reino sobre os Táfios, remadores exímios. Com os meus homens naveguei para aqui sobre o mar vinhoso a caminho de uma gente de falar estranho: vou a Témesa buscar bronze e levo para lá reluzente ferro. A minha nau ancorei-a junto da praia, a distância da cidade, no porto Retro, que é dominado pelo nemoroso Neio. Nós, Ulisses e eu, honramo-nos de ser hóspedes um do outro, por uma antiga herança paterna, como o podes perguntar ao velho herói Laertes. Este, dizem, não volta mais à cidade, mas vive, suportando as suas penas, no campo, com uma velha escrava, que lhe serve o comer e o beber, quando sente cansadas as pernas de se arrastar pelo terreno fecundo da sua vinha. Eu vim, porque me disseram que o teu pai já estava em casa; mas, como vejo, os deuses impedem-lhe o regresso, porquanto não morreu o preclaro Ulisses. Vive, talvez ainda, no vasto mar, numa ilha circundada pelas ondas, prisioneiro de homens cruéis e selvagens que o detêm contra a vontade. Sem ser adivinho ou conhecedor de presságios, vou, contudo, anunciar-te o que inspiram os imortais ao meu espírito e que, segundo creio, terá execução. Ele não permanecerá já por muito tempo longe da sua pátria, ainda que o prendam com cadeias de ferro, porque é homem engenhoso e descobrirá meio de voltar.

Tu falas e responde com sinceridade: Ulisses já tem um filho tão crescido? Na cabeça e nos olhos belos pareces-te perfeitamente com ele. Nós visitávamos-nos muitas vezes, antes da sua ida para Tróia, para onde foram, nas naus bojudas, os mais valentes dos Argivos. Desde então, não tornei a ver Ulisses, nem ele a mim.

O prudente Telêmaco replicou-lhe:

- Ó hóspede, eu quero responder-te com toda a franqueza. Minha mãe afirma que sou filho dele; mas eu não sei, porque jamais alguém conheceu por si mesmo a sua própria origem.


Quem dera que tivesse a felicidade de ser filho de um homem que chegasse à velhice na posse dos seus bens! Aquele, porém, que dizem ser o meu pai, é, já que tu o queres saber, o mais infeliz de todos os homens.

Atena, a deusa de olhos brilhantes, tornou-lhe:

- Os deuses não te reservam uma linhagem obscura, no porvir, visto Penélope ter dado à luz um filho tal, como tu. Mas dize e responde-me sem rebuço: Que festim é este? Por que se reúne esta gente aqui? Tens necessidade disto? Será um banquete ou uma boda? Pois não é uma refeição a escote; e os convivas são, ao que me parece, em tão alto grau insolentes, que qualquer homem sensato, que entrasse aqui, indignar-se-ia, vendo os seus excessos.

Respondeu-lhe o prudente Telêmaco:

- Meu hóspede, esta casa, pois me interrogas e inquires isso de mim, devia ter sido, outrora, opulenta e nobre, enquanto o Laérte ainda não estava ausente; mas os deuses maquinadores de males determinaram agora outra coisa: fizeram-no o mais ignorado de todos os homens - desgraça que me aflige mais do que se ele perecesse, vencido, entre os seus companheiros, no país dos Troianos, ou nos braços dos amigos, uma vez terminada a guerra. Então, os Panaqueus erigir-lhe-iam um túmulo e ele alcançaria a seu filho grande renome, no porvir; agora, porém, as Harpias arrebataram-no sem glória e ele desapareceu sem ninguém notar, deixando-me em herança aflições e queixas. E não é só o seu destino que lamento e choro. Os deuses enredaram-me ainda noutros cuidados funestos. Os próceres que dominam nas ilhas, em Dulíquio, Sama e na nemorosa Zacinto, bem como os que imperam na rude Ítaca, todos eles pretendem a minha mãe para esposa e consomem-me a fazenda. E ela não recusa um casamento detestável nem é capaz de terminar com este estado de coisas; entretanto, os pretendentes arruínam e devoram os meus bens e em breve acabarão também comigo.

Indignada, Palas Atena retorquiu-lhe:

- Aí, na verdade, é grande a falta que o ausente Ulisses te faz, o qual saberia castigar com as suas mãos os pretendentes sem vergonha! Oxalá, neste momento, assomasse ao portal da casa, de elmo e escudo e com duas lanças, tal como na nossa o vi, pela primeira vez, a beber e a divertir-se, quando regressava de Éfira, do palácio de Ilos, filho de Mérmero (Ulisses tinha ido lá, numa ligeira nau, em busca de um veneno mortal para untar as brônzeas flechas; Ilos, porém, temendo os deuses sempiternos, não lho quis dar, mas o meu pai, que o amava muito, deu-lhe); se, tal como então, Ulisses arremetesse contra os pretendentes, teriam todos morte prematura e umas bodas enlutadas. Mas está oculto no seio dos deuses se voltará ou não, para se vingar deles na sua casa. Como quer que seja, exorto-te a pensar no modo de pôr fora esses malvados. Escuta e atende às minhas palavras!

Convoca amanhã a assembléia dos heróis Aqueus e expõe-lhes a tua situação, tomando os deuses por testemunha. Intima os pretendentes a ir cada um para a sua casa; e a tua mãe, se o seu coração se sente inclinado a casar, que vá de novo para o palácio do seu poderoso pai [e a família que disponha o casamento e prepare um grande dote, como convém a uma filha querida]. A ti quero dar-te um conselho prudente, que talvez sigas. Depois de equipar uma boa nau com vinte remadores, parte a colher informações do teu pai, há muito ausente. Pode ser que algum mortal te fale dele ou ouças a fama proveniente de Zeus, que é a que mais glória dada aos homens. Em primeiro lugar; vai a Pilo e interroga o ilustre Nestor; dali dirige-te a Esparta, ao palácio do fulvo Menelau, porque, dos Aqueus de brônzeas couraças, foi este o último que regressou. Se ouvires dizer que o teu pai vive e que está de volta, ainda que te aflijam os cuidados, sofre com paciência um ano mais. Mas, se te informares da sua morte, então torna para a terra pátria e, tendo-lhe erigido um monumento e prestado todas as honras fúnebres, que a ele convém, dá um esposo à tua mãe. Logo que tiveres terminado e cumprido isto, pensa no teu espírito e no teu coração no modo como hás de matar os pretendentes na tua casa, seja usando de dolo ou cara a cara. E deixa-te de meninices, pois já não és criança. Não sabes quão grande glória alcançou entre os homens o preclaro Orestes, depois de ter feito perecer o traiçoeiro Egisto, o assassino que matara o seu ilustre pai? Assim, amigo, tu, que tens tão bela aparência e estás tão crescido, sê audaz, para que a posteridade te louve. E agora vou descer à nau ligeira, para junto dos meus homens, que estão talvez agastados de esperar tanto. Pensa, pois, em ti próprio e recorda os meus conselhos.

O prudente Telêmaco respondeu-lhe:

- Meu hóspede, o teu falar é tão benévolo como o de um pai a seu filho. Jamais poderei esquecer as tuas palavras. Não obstante a urgência da viagem, espera um pouco. Depois de tomares banho e de recreares o teu coração, irás para a nau de ânimo satisfeito; e levarás contigo um presente de grande valor e magnífico, que guardarás como preciosa lembrança de mim, como o que os hospedeiros amigos costumam dar aos que recebem na sua casa.

Atena, a deusa de olhos brilhantes, replicou-lhe:

- Não me detenhas por mais tempo, que tenho grande desejo de partir. O presente, que o teu coração te impele a dar-me, entrega-me no regresso, para o levar para casa. Escolhe no teu tesouro um muito belo; ele far-te-á digno de retribuição.

Depois de dizer isto, Atena de olhos brilhantes ausentou-se: ergueu vôo, como uma ave, e desapareceu, deixando no coração de Telêmaco ânimo e valor e uma lembrança do pai mais viva do que antes. E, entrando em reflexões, ficou atônito, porque suspeitava que o seu hóspede era um deus. Logo, em seguida, o homem de aspecto divino acercou-se dos pretendentes.

Um aedo cantava entre eles, que, assentados em volta, o ouviam em silêncio. Cantava da viagem lastimosa que Palas Atena decretara contra os Aqueus, ao virem de Tróia. A sensata Penélope, filha de Icário, ouvindo o inspirado canto, desceu, seguida de duas escravas, do seu aposento, no andar superior da casa. Quando a mulher preclara chegou junto dos pretendentes, as faces cobertas com um véu precioso e uma escrava de cada lado, deteve-se ao pé de um pilar do sólido teto. Depois, a chorar, falou assim para o aedo:

- Fémio, tu sabes muitas outras maravilhas que deliciam os mortais - façanhas de homens e de deuses, celebradas pelos aedos. Assentado, canta a esses uma, e eles que vão em silêncio bebendo vinho. Mas deixa esse canto triste, que não cessa de me afligir o coração, no peito. Ele esmaga-me com uma dor inolvidável. Deixa-o, que me causa saudades de um ente querido e traz-me à memória um varão, cuja fama enche toda a Hélade e chega até ao centro de Argos.

O prudente Telêmaco respondeu-lhe:

- Minha mãe, porque proíbes ao aedo amado deleitar-nos conforme lhe inspira o estro? Não são os aedos quem tem a culpa, mas Zeus, que outorga os seus dons aos homens laboriosos segundo lhe apraz. Não censures a Fémio, por cantar a funesta sorte dos Dánaos, pois o canto que os homens louvam mais é o último que chega aos seus ouvidos. Que ouse o teu coração e o teu ânimo escutá-lo, que Ulisses não foi o único que perdeu em Tróia o dia do regresso; muitos outros varões aí morreram. Mas recolhe-te à tua câmara e trata dos lavores que te são próprios, do tear e da roca, e ordena às escravas que vão para o trabalho. De falar terão cuidado os homens, sobretudo eu, que sou quem governa em casa.

Ela, admirada, voltou para o andar superior, tendo calado no seu coração a prudente palavra do filho. E, depois de ter em companhia das escravas subido ao seu aposento, pôs-se a cair sobre Ulisses, o seu esposo, até que Atena, a deusa de olhos brilhantes, lhe derramou nas pálpebras um doce sono. Os pretendentes, porém, levantaram na sala sombria grande tumulto e queriam todos reclinar-se no leito de Penélope. Mas o prudente Telêmaco, tomando a palavra, disse-lhes:

- Pretendentes de minha mãe, de insolência arrogante! Neste momento gozemos do festim; e não levanteis alarido, porquanto é agradável escutar um aedo como este, cuja voz se assemelha à dos deuses. Depois, ao romper da aurora, reunamos-nos todos em assembléia, para eu vos dizer claramente que saiais do palácio e trateis de outros banquetes, [indo pelas casas uns dos outros consumir os vossos próprios bens. Todavia, se entendeis que é melhor e preferível arruinar, impunemente, a fazenda de um só homem, arruinai-a; que eu clamarei aos deuses sempiternos; e pode ser que Zeus permita, um dia, que sejam castigadas as vossas obras e pereçais dentro do palácio, sem terdes quem vos vingue].

Assim disse; e todos eles morderam os lábios, admirados de Telêmaco falar com tal ousadia. Replicou-lhe Antínoo, filho de Eutipes: - Telêmaco, são os deuses, por certo, quem te ensina a falar com tanto orgulho e tão ousadamente. Não permita o filho de Crono que reines em Ítaca rodeada pelas ondas, o que aliás por nascimento te é devido!

O prudente Telêmaco retorquiu-lhe:

- Antínoo, indignar-te-ás pelo que te vou dizer? Eu desejaria ser rei aqui, se Zeus me concedesse. Julgas, porventura, que, entre os homens, é esta a pior sorte? Reinar não é um mal, porque a casa do rei, em breve, se torna opulenta e ele próprio é mais estimado. Mas existem em Ítaca, circundada pelo mar, muitos outros príncipes aqueus, novos e velhos. Destes, reine aqui algum, uma vez que já não vive o egrégio Ulisses; e eu serei senhor da nossa casa [e das escravas que ele como despojo me adquiriu].

Respondeu-lhe Eurímaco, filho de Pólibo:

- Telêmaco, sem dúvida, está oculto no seio dos deuses, quem é, de entre os Aqueus, que reinará em Ítaca, circundada pelo mar. Tu, porém, administra a tua fazenda e governa a tua casa; e que nenhum homem, enquanto em Ítaca houver gente, venha privar-te, contra a vontade e à força, dos teus bens. Eu desejaria, ó caríssimo, interrogar-te a respeito do estrangeiro. Donde veio esse homem? De que país se honra ele de ser? Onde é a sua terra natal? Trouxe alguma notícia da volta do teu pai ou veio exigir o pagamento de uma dívida? Como desapareceu tão repentinamente, sem dar tempo a que fosse conhecido! Pelo aspecto não parecia má pessoa.

O prudente Telêmaco replicou-lhe:

- Eurímaco, quanto ao regresso do meu pai, acabou-se tudo e já não acredito em novas, venham elas donde vierem; nem me importa o oráculo, que um adivinho anuncie a minha mãe, chamado por ela à sala. A respeito do estrangeiro, é um hóspede meu, de Tafos, que já o era do meu pai; e honra-se de ser chamado Mentes, filho do prudente Anquíalo, que reina sobre os Táfios, remadores exímios.

Assim disse Telêmaco; mas, no seu espírito, tinha reconhecido que ele era uma deusa imortal. Os pretendentes volveram a divertir-se com a dança e cantos alegres, à espera de que viesse à noite. Quando, porém, anoiteceu, então, partiram, cada um para a sua casa, com vontade de se deitar. Telêmaco, da sua parte, retirou-se para o seu aposento, edificado no pátio magnífico, num lugar desimpedido em volta. E, enquanto se dirigia para a cama, o seu espírito era agitado por muitas reflexões. Acompanhava-o, com um archote aceso, a diligente Euricleia, filha de Ops Pisenórida, a qual, ainda jovem, Laerte comprara, outrora, com os seus próprios bens - pelo preço de vinte bois - e que honrou no palácio como a uma fiel esposa, sem nunca a admitir no leito, para não excitar a cólera da sua mulher.

Euricleia, pois, de entre as escravas a mais estimada de Telêmaco, a quem ela criara em pequeno, acompanhava-o com um archote aceso. Ele abriu a porta do aposento solidamente construído e, assentando-se no leito, despiu a túnica macia que pôs nas mãos da circunspecta velha. Esta, depois de a ter dobrado com esmero e suspendido de um cabide, junto do leito de artística talha, saiu do aposento, fechou a porta, puxando por uma argola de prata, e correu a tranqueta, por intermédio de uma correia. Então, Telêmaco, coberto com um velo de ovelha, pensou toda a noite na viagem a que Atena o exortara.

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